sexta-feira, 28 de março de 2014

MUNDO

Victor Silva Barros
MUNDO 

É assim o mundo
ignorando sentimentos,
não escutando as tempestades
explodindo!
É assim o mundo
surdo e cego,
ignorando que um abraço
pode mudar o destino!
É assim o mundo
espreitando a vida
dos umbrais das janelas,
ignorando
que há vícios e virtudes
podendo ambas
levar-nos ao cume!

PESSOAS

J. Eliseu

PESSOAS

Há seres assim
capazes de transformar
dias vulgares
em fachos de luz!
Desabridos,
lavrando campos
onde crescerão
lírios roxos
e redenções!
Suportam tudo
até um vento frio
soprando forte
da Europa Central,
teimando em queimar
a sementeira que fizemos!
É breve o vento,
persistente
é o país que temos!
Mudá-lo é urgente!

TEMPO


J. Eliseu
TEMPO

O tempo é de sustos
de saia não acabada,
de rebentar por dentro
sentada,
de não dar luta
a quem começou
esta jornada destruidora!
O tempo é de cair para o lado,
falta brilho,
ninguém escuta a desgraça
castradora!
Custa viver aqui,
custa trabalhar
no país coutada do poder
estabelecido,
tudo o mais  sendo prejuízo!

A NOSSA CIRCUNSTÂNCIA


Collado
A NOSSA CIRCUNSTÂNCIA

Hoje não atendo ninguém
fecho a porta à chave,
dou duas voltas,
desligo o telemóvel,
o computador,
pego em folhas brancas,
iguais,
imaculadas!
Com uma esferográfica
de tinta preta,
escrevo
uma poesia comprida,
viva como a vida!
Fala da Patrícia,
da Teresa,
da Margarida,
da Noémia,
Mulheres fadas,
guerreiras,
companheiras,
todas inocentes,
todas parceiras!
Todas chorando,
todas rindo,
embalando o seu menino
simplesmente com sono
ou doentito!
Sacrificam-se,
sofrem violência,
duras como o granito
ainda arranjando tempo
para namorar
e enrolar o cabelo
com uma fita amarela!

sexta-feira, 21 de março de 2014

PERFIL DE ANTERO

Pedro Prata
PERFIL DE ANTERO

Bronco,
meio surdo,
pequenote,
mãos deformadas
nas obras
que faz de empreitada,
voz rouca,
sensibilidade, nada!
Chega a casa emborcado,
arrasta os pés para o quarto!
Tira os sapatos,
as calças,
relincha como um cavalo,
pucha a Zulmira
desavergonhadamente
para a cama!
No escuro,
sem quaisquer preliminares,
alivia o seu desejo,
esquecendo de limpar
as lágrimas que fez rolar!
Pede, ainda zangado,
a janta
que teima em chegar!

PAÍS MEU

Sérgio Eliseu
PAÍS MEU 

Seduz-nos ainda pensar
que pacificamente,
calmamente,
as coisas hão-se mudar
para melhor!
Se erramos juntos
juntos encontraremos
a redenção!
Não será preciso,
por certo,
destruir as covas
onde os lobos
ainda comem
o que levaram a mais!
Com teares,
fornos,
serras,
bisturis,
refinarias,
oficinas,
campos,
prados
trocaremos as voltas ao lobo
da finança,
e, ergueremos de novo o país!
É preciso manter a distância
entre nós
e os lobos,
sempre em função do ataque,
racionais,
frios,
cabe a nós
barrar-lhes o caminho
dizendo firmemente NÃO!

VIDA

J. Eliseu
VIDA

A vida é tudo
o que está nas coisas
e o que não está!
É a horta coberta
de legumes verdes,
as fruteiras diversas
cheias,
as rosas explodindo
por entre os espinhos,
o oceano inteiro,
a Ucrânia ferida,
interesses alheios,
o medo dos ucranianos,
a guerra iminente,
os mercenários pagos!
A pueril opinião
dos comentadores
de profissão!
As coisas que sentimos
e as ocultas
que  fazem de nós números
prontos a abater!
A brevidade dos actos,
a eternidade
que há no direito
a amar!
Nestes desequilíbrios
provocados,
há sempre alguém
que cantando
acorda os adormecidos
e os desperta
para lutar!

quinta-feira, 13 de março de 2014

CAFÉ DA ALDEIA

Collado
CAFÉ DA ALDEIA

Quando eu era criança
senhora que se prezasse
não entrava no café sozinha!
Lugar de homens,
homens macho,
beata ao canto da boca,
emborcando copos de três,
jogando à sueca
com muita ordinarice à mistura!
Futebol, rameiras,
vidas alheias
perpassavam nas conversas!
Era rasca o café,
escuro,
aliviavam-se
numa barraca dos fundos,
voltavam à mesa descascada
pelo tempo e pelo uso!
Quebravam-se ali tensões
esqueciam-se desilusões
numa violência verbal afirmativa!

TECNOLOGIA

Luís Morgadinho



TECNOLOGIA

Do país longínquo,
em que interesses,
mais ou menos ocultos
fomentam a guerra civil,
chega-nos,
à hora da refeição,
via satélite
o extermínio,
em pratos rasos!
Corpos enrolados
em trajos claros,
imaculados,
choros animalescos,
dor ilimitada,
bombas,
estrondos,
ao longe rajadas,
alguém que festeja
o início da caçada!
As redes sociais
postam imagens tristes
de maldade anunciada,
perante a impotência
das gentes acossadas!
Tanta tecnologia,
tanta ineficácia,
sentados nos sofás
agimos com likes,
sinceramente,
não chega!

PENSAMENTO


Jorge Gumbe


PENSAMENTO

Creio
não ser daqui,
onde a memória
guarda tudo,
o de ontem,
o de hoje,
prevendo o amanhã!
Sou de outro planeta
onde o silêncio
transporta anjos
guardando por nós
os desenganos!
Têm acesso ao nosso sangue,
libertando a rigidez dos dias
que nos consomem!
As lembranças más
são apagadas
com espaços de luz
e cria-se na fronte
um novo mapa
para lermos
com exactidão real,
o nosso destino final! 

MARESIA

Collado


MARESIA

Cheira a maresia,
cheira a pinheiros,
cheira a rocas
com lapas agarradas,
a barcos com musgos
putrefactos,
a redes
transportando mar!
Cheira a mundo,
a navios naufragados,
a tribos antigas,
extintas
em nome da fé
e do rosário!
Cheira a arcas
com onças de ouro,
aventura,
a música sacra,
sacerdotes a  rezar!
Cheira a fruta tropical,
a invasões,
amores cruzados,
pele negra,
olhos azuis!
Cheira a fado, a morna,
a samba,
a árvores plantadas
que ainda não secaram!
que  irão permanecer!
Cheira a núpcias
a filhos bastardos,
a ausências, a regressos,
a viagens sem findar!
A luz, a escuridão.
à História que ficou escrita
e à outra
que mais vale não saber nunca!